Vai Na Fé prova que uma boa novela não precisa fugir da sua essência

Vai Na Fé
Vai Na Fé é sucesso por ser uma novela com cara de novela. (Foto: divulgação).

Vai Na Fé prova que uma boa novela não precisa fugir da sua essência

Caminhando para o seu terceiro mês no ar, “Vai Na Fé” é o novo fenômeno de audiência do horário das 19h na Globo. A novela de Rosane Svartman chegou a marcar 26 pontos de média e 40% de share (número de televisores sintonizados), se igualando aos índices do horário das 21h, com “Travessia”.

Todo esse sucesso foi sendo cativado desde o início da trama em janeiro e pode ser explicado por alguns fatores. Um ponto fundamental é que “Vai Na Fé” é uma novela com cara de novela. Uma boa história com temas universais, contada em um excelente texto, de uma forma simples e com personagens cativantes.

A trama principal narra a história de Sol, uma mulher preta batalhadora, nascida e criada na periferia, chefe de família, mãe de duas filhas que teve que abrir de sonhos da juventude para enfrentar a dura realidade da vida adulta. Uma combinação que pode ser facilmente identificada com milhões de mulheres de qualquer canto do Brasil.

Só esse recorte já mostra o potencial que “Vai Na Fé” carrega. Potencial esse, que só podia ser concretizado com a brilhante atuação de Sheron Menezzes. Em seu primeiro papel como protagonista em uma novela, a atriz vive o seu melhor momento e consegue dar a Sol o tom e o carisma necessários para que o público se conecte com ela desde o primeiro minuto.

Elenco afiado

Aqui, vale também pontuar um dos melhores acertos da novela. Um excelente elenco de atores atrizes negros que atuam com equivalência na trama, passando pelo seus dois protagonistas, Sol e Benjamim, personagem que destaca o excelente trabalho de Samuel de Assis.

O ator foi destaque em uma das cenas mais bonitas emocionantes da trama até o ponto atual. O momento em que Ben, vivendo uma crise de identidade após escapar da morte no acidente que vitimou Carlão (Che Moais), marido de Sol, se conecta com a sua ancestralidade ao visitar um terreiro do Candomblé.

A cena belissimamente executada além de ser um momento inédito na TV brasileira, é um exemplo de como fugir de clichês e estereótipos na hora de se retratar vivências de personagens negros, sem se pautar exclusivamente e exaustivamente pelo sofrimento e as dores causadas pelo racismo.

O grande vilão da trama, Theo, encarnado por Emílio Dantas é daqueles antagonistas que te despertam os sentimentos mais primitivos. Ao mesmo tempo, ele é sabiamente retratado como um homem comum, que esconde o comportamento abusivo que comete principalmente com a esposa e com o filho, por trás dos seus privilégios brancos e masculinos.

Outro destaque em “Vai Na Fé” é o seu elenco jovem, formados por nomes promissores como Bella Campos (Jenifer), Caio Manhente (Rafa), Manu Estevão (Duda) e Jean Paulo Campos (Yuri), que finalmente ganhou um personagem que o permita sair do Cirilo de Carrossel (2012).

Mas a grande revelação é Clara Moneke, que interpreta a divertida e cativante Kate, uma personagem que ao mesmo tempo em que arranca boas risadas do público, também mostra uma complexidade ao almejar um futuro maior do que a vida que ela conhece no bairro de Piedade, o que acaba por faze-la se tornar uma da vítimas de Theo.

Destaque no humor

Não poderia ficar de fora o excelente núcleo de Lui Lorenzo , cantor em decadência que  se vê aprisionado ao personagem que criou ao lado da mãe e empresária, Wilma, uma atriz que já viveu momentos de glória na vida artística, mas se vê frustrada ao ter que  se resumir a cuidar da carreira do filho. O trabalho de José Loreto e Renata Sorrah é inpecavél e arranca momentos hilários, que estão entre os mais divertidos da novela.

“Vai Na Fé” não foge da essência de uma novela clássica, não tenta ser super conceitual,  ou imitar as séries estrangeiras, e conquistou o público pela sua simplicidade, sua história autenticamente brasileira e conectada com a realidade do país em 2023; além de ter um elenco bem entrosado que dá vida a personagens que já fazem parte do nosso cotidiano.