Trailer de ‘Rainha Cleópatra’ é alvo de comentários racistas e Netflix toma decisão

Após divulgação de série documental de Cleópatra receber comentários racistas, Netflix desativa comentários
Atriz Adele James em papel de ‘Rainha Cleópatra’, nova série da Netflix (Imagem: Divulgação)

Trailer de ‘ Rainha Cleópatra’ é alvo de comentários racistas e Netflix toma decisão

A nova série documental da Netflix, “Rainha Cleópatra”, que investiga a vida da última faraó do Egito, está causando polêmica nas redes sociais. A plataforma de streaming removeu a opção de comentários no trailer após críticas em relação à representação de Cleópatra como uma mulher negra. Com um elenco repleto de estrelas, incluindo Adele James, Craig Russell e Jada Pinkett Smith, que também atua como produtora executiva, a série pretende explorar a vida das icônicas rainhas africanas e reavaliar a herança de Cleópatra, tema de muito debate acadêmico.

Comentários racistas e críticas

No entanto, a representação de Cleópatra como uma mulher negra levou a acusações de “Blackwashing” da figura histórica, já que Cleópatra é conhecida por ter sido de origem grega macedônia. A série provocou agitação na internet, com uma petição no Change.org pedindo seu cancelamento devido à “falsificação da história”. A petição, que atraiu mais de 85.000 assinaturas em apenas dois dias, foi removida. Embora Cleópatra não fosse etnicamente egípcia, sua família Ptolemaica governou o Egito por mais de três séculos.

Plataforma de Streaming Netflix, desativa comentários no trailer Rainha Cleópatra no Youtube
Plataforma de Streaming Netflix, desativa comentários no trailer Rainha Cleópatra no Youtube (Imagem: Reprodução)

Um advogado entrou com um processo acusando Rainha Cleópatra de violar as leis de mídia e tentar “apagar a identidade egípcia”. Um renomado arqueólogo insistiu que Cleópatra tinha “pele clara, não negra”. Mas o produtor da série afirmou que “sua ascendência é altamente debatida”, e a atriz que a interpreta, Adele James, mandou um recado aos críticos: “Se você não gosta do elenco, não assista à série”. A atriz disse isso em um post no Twitter que reproduzia imagens de capturas de tela de comentários abusivos que incluíam insultos racistas.

O documentário e a visão dos Egípcios

O documentário que terá estreia no dia 10 de maio de 2023, tem a seguinte sinopse: “Por meio de reconstituições e entrevistas, esta série documental mostra como Cleópatra, a última faraó do Egito, lutou para proteger seu trono, família e legado”. Relembre a história da Queen Cleópatra, da qual não se sabe ao certo qual era o seu real tom de pele, mas tem gerado polêmica.

Cleópatra nasceu na cidade egípcia de Alexandria em 69 a.C. e se tornou a última rainha de uma dinastia de língua grega fundada por Ptolomeu, general macedônio de Alexandre, o Grande. Ela sucedeu seu pai Ptolomeu 12 em 51 a.C. e governou até sua morte em 30 a.C. Depois disso, o Egito caiu sob domínio romano. A identidade da mãe de Cleópatra é desconhecida, e os historiadores dizem que é possível que ela, ou qualquer outra ancestral feminina, fosse uma indígena egípcia ou de outra parte da África.

O site parceiro da Netflix, Tudum, afirmou em fevereiro que a decisão de escalar a atriz britânica Adele James como Cleópatra para sua nova série documental era “uma referência ao debate de séculos sobre a raça da governante”. Jada Pinkett Smith, a atriz americana que foi produtora executiva e narradora da série, foi citada dizendo: “Não costumamos ver ou ouvir histórias sobre rainhas negras, e isso foi muito importante para mim, assim como para minha filha, e para minha comunidade poder conhecer essas histórias porque há um monte delas!”.

Mas quando o trailer da série foi lançado na semana passada, muitos egípcios condenaram a representação de Cleópatra. Zahi Hawass, um proeminente egiptólogo e ex-ministro das Antiguidades, disse ao jornal al-Masry al-Youm: “Isso é completamente falso. Cleópatra era grega, o que significa que ela tinha pele clara, não negra”. Hawass afirmou que os únicos governantes do Egito conhecidos como negros foram os reis kushitas da 25ª Dinastia (747-656 a.C.).

“A Netflix está tentando provocar confusão, espalhando fatos falsos e enganosos de que a origem da civilização egípcia é negra”, ele acrescentou, pedindo aos egípcios que se posicionem contra a empresa de streaming. No domingo (16), o advogado Mahmoud al-Semary entrou com um processo no Ministério Público exigindo que sejam tomadas “as medidas legais necessárias” e que seja bloqueado o acesso aos serviços da Netflix no Egito.