Pioneira no jornalismo, Glória Maria também contribuiu na luta contra o racismo

Glória Maria
Glória Maria foi durante anos uma das únicas referências negras no telejornalismo. (Foto: reprodução/Globo).

Glória Maria, falecida na manhã desta quinta-feira (2) vítima de um câncer no cérebro, foi uma das pioneiras no telejornalismo e foi também a grande referência feminina e negra no meio. Em uma época de baixíssima representatividade negra na TV, a jornalista desbravou muitos caminhos para a geração atual.

Glória sempre se manifestou abertamente e de maneira contundente contra o racismo, relatando várias passagens em que sofreu descriminação dentro e fora do trabalho. Uma delas veio de João Figueiredo, último presidente da ditadura militar no Brasil.

“Tira aquela ‘neguinha’ da Globo daqui’ [dizia ele]. E eu passei todo o governo Figueiredo ouvindo [isso]”, contou ela durante entrevista ao programa Conversa com Bial.

“Sempre tem uma justificativa para você estar ali, nunca é porque você tem talento, porque você tem valor. É por uma coisa qualquer. E você vai aprendendo como é o olhar das pessoas sobre você. E quanto você nasce negro, e eu não sou mulatinha, eu sou negra mesmo, eu sou preta, você aprende a reconhecer isso, a 30 quilômetros de distância, você sabe onde está o racista”, declarou.

A coragem e o espírito livre que eram sua marca, são herança da família comandada por mulheres fortes. “Eu faço da minha vida e do meu corpo o que eu quero, não o que as pessoas querem que eu faça”, afirmou ela em entrevista ao podcast Mano a Mano, com Mano Brown.

Em conversa com Marília Gabriela, Glória contou como foi percebendo o racismo no seu dia-a-dia de uma forma mais sutil, já que ela era uma profissional de sucesso, conhecida em todo o país.

“O preconceito é uma coisa que não termina, mas tem diversas faces. Agora estou em um patamar em que as pessoas não dizem: ‘você não vai fazer isso porque você é negra’. Hoje é muito sutil, é mais elaborado, porque eu também sou uma pessoa mais elaborada”, explicou.

“Se você é mulher preta é pior ainda, porque nós somos mais abandonadas e discriminadas. É preciso aprender a se blindar da dor. Se você for esperar uma blindagem universal, você está perdida”, completou.

Glória foi a primeira pessoa no Brasil a recorrer  a recorrer a Lei Afonso Arinos, que proibiu a discriminação racial no Brasil, em 1951.

“Racismo é uma coisa que eu conheço, que eu vivi, desde sempre. E a gente vai aprendendo a se defender da maneira que pode. Eu tenho orgulho de ter sido a primeira pessoa no Brasil a usar a Lei Afonso Arinos, que punia o racismo, não como crime, mas como contravenção”, escreveu ela em post no Instagram, em 2019.

Ela chegou a narrar o episódio que motivou o uso da lei: “Eu fui barrada em um hotel por um gerente que disse que negro não podia entrar, chamei a polícia, e levei esse gerente do hotel aos tribunais. Ele foi expulso do Brasil, mas ele se livrou da acusação pagando uma multa ridícula. Porque o racismo, para muita gente, não vale nada, né? Só para quem sofre”.

Não atoa, após décadas de carreira, Glória Maria, continuou inspirando as nova gerações, como nesta reportagem que viralizou nas redes sociais há poucos anos atrás: