A cada novo passo da sua carreira, fica mais evidente a capacidade de Pabllo Vittar de se reinventar e trazer para um público uma nova camada da sua personalidade como artista. Em Noitada, seu quinto álbum, a cantora mostra o seu lado mais provocativo ao fugir totalmente do que foi apresentado no bem-sucedido Batidão Tropical (2021).
O disco que conta mais uma vez com a produção do time da Brabo Music, é o mais bem amarrado conceitualmente da carreira da drag queen. Ao longo das 8 faixas, ela nos leva para aventuras em uma balada onde tudo é permitido. A atmosfera noturna é bem trabalhada através de muito hyperpop, synth-pop, Techno e House, misturados a ritmos brasileiros como funk, pagodão baiano e forró.
Desde a introdrução, a obra consegue, de maneira muito efeiciente, transportar o ouvinte para a sua grande celebração à noite: “Eu sou da noite / Eu pertenço à noite / Eu pertenço à noite assim como eu pertenço a você”, diz a letra.
As já conhecidas “AMEIANOITE” e “Descontrolada” ganham mais peso e mais brilho dentro do álbum e dão um ótimo gás inicial para os primeiros minutos de Noitada. As contribuições de Gloria Groove e MC Carol são grandes trunfos e trazem a sensação de encontrar na balada as pessoas que vão ser a companhia certa para agitar a madrugada.
Em seguida vem a sequência com o Interlude “Calma Amiga” e “Balinha de Coração”, duas colaborações com Anitta que mantém o sucesso da parceria entre as duas estrelas brasileiras. Vale ressaltar a escolha inteligente de ir na contramão do sucesso de “Sua Cara” e trazer uma gravação que mostra um lado mais descontraído e debochado das duas potencializado pela fritação da PC music.
Outro ponto bastante marcante em Noitada é que ele mostra o lado proibidão de Pabllo Vittar. Aqui, a drag queen fala abertamente sobre sexo, drogas, esbanja sensualidade, usa com habilidade o humor em versos de duplo sentido e se permite ao uso de palavrões. Tudo isso contribui para uma sensação de proximidade com a artista e é um convite para nos divertimos junto com ela.
Essa nova atitude fica bem clara em “Derretida”, faixa altamente erótica, na qual a cantora não tem medo de expressar sua libido embalada por uma base eletrônica certeira: “Você toca com carinho / Quando bate, é gostosinho / Na Lua cheia, abstinência de você / Tô ficando assanhadinha / Pirulito na boquinha / Já sei que vou me derreter.”
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“Penetra”, pagodão dark com participação de “O Kannalha” e “Apetitosa” com MC Tchelinho e DJ Tonias são ótimos exemplos da habilidade de Pabllo, aliada com a Brabo Music, de misturar referências internacionais com os mais diferentes gêneros brasileiros. Aqui, esses experimentos chegam a outro nível de criatividade e surpreendem a cada nova audição.
No entanto, a grande faixa com potencial de hit de ‘Noitada’ é “Culpa do Cupido”, forró eletrônico que conquista instântaneamente com o refrão saliente: “Se tu provou, gostou, chorou / O que tenho a ver com isso? / Foi culpa do cupido, amor, amor / Foi culpa do cupido.”
‘Noitada’ é o álbum mais ousado de Pabllo Vittar e mostra que a cantora está firme no compromisso de sempre trazer algo de refrescante para pop brasileiro. Seu único problema é a sua duração. 20 minutos de músicas muito curtas e alguns interludes deixam um gosto de algo inacabado que poderia render mais. Porém, a vontade de apertar o repeat é certa.
Formado em Jornalismo pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Possui passagem por assessoria de comunicação e produção de críticas musicais desde 2020 em redes sociais. Apaixonado pelo universo e cultura pop, pesquisa e produz conteúdo para o nicho desde 2019.
