Em ‘Gloria’, Sam Smith se mostra mais confortável na própria pele e no pop

Sam Smith Glory
Sam Smith está mais livre do que nuca em ‘GLory’. (Foto: divulgação).

Ao longo de sua carreira Sam Smith foi se descobrindo e desabrochando diante do público tanto como artista quanto em sua vida pessoal. Hoje o cantor assumidamente gay e identificado como pessoa não-binária, se despiu de pudores e se mostra cada vez mais confortável na própria pele. Esta é essência de Glory, seu quarto e mais novo álbum.

Ao longo de 13 faixas, o britânico se joga no pop, sem abandonar suas origens no r&b e no jazz. As músicas ainda passeiam por temas românticos, porém com um olhar diferente. As desilusões amorosas dão espaço a celebração da conquista de uma auto-estima mais forte, romances descompromissados e um olhar aberto sobre a vivência queer.

Ao mesmo tempo em que adquire cada vez mais confiança como artista e se distância da imagem mais tímida e discreta do início da carreira, Sam Smith se mostra interessado em experimentar elementos e sonoridades do pop, e se mostra em um processo de construção de uma nova identidade, o que proporciona ótimos momentos.

Sam Smith Glory
Capa de Glory, novo álbum de Sam Smith

Um bom símbolo dessa transformação em curso é “I’m Not Here To Make Friends”, música em que o artista encarna uma diva pop e passeia pela dancemusic, afirmando no refrão de vocais potentes que não quer fazer amigos e sim encontrar um novo amor.

A faixa ainda é introduzida pela icônica frase da drag queen Rupaul, “if you can’t love yourself, how in hell are you gonna love somebody else? “(Se você não consegue se amar, como você vai amar outra pessoa?) . Já deixando a insegurança e a timidez do lado de fora da festa.

Outro destaque é o hit “Unholy”, parceira com Kim Petras que alcançou o topo das paradas nas plataformas digitais e escancara com bastante acidez a hipocrisia da sociedade conservadora ao contar a história de um homem que deixa família e filhos para se aventurar em um prostíbulo.

A faixa de abertura, “Love Me More” é uma declaração bastante sensível e franca de Sam que conversa com qualquer jovem LGBTQIA+ que está em busca de auto-aceitação e entendimento de si mesmo. “Todo dia eu estou tentando não me odiar (me odiar, oh) /
Mas, ultimamente, não está doendo como antes / Talvez eu esteja aprendendo a me amar mais”, diz a letra.

As baladas românticas, que sempre foram o ponto forte de Sam, também tem seu espaço em Glory em bons exemplares como “No God”, faixa na qual ele explora sua sensualidade e “Perfect”, uma parceria cool com a canadense Jessie Reyez.

O álbum como um todo tem altos e baixos. Apesar de excelentes momentos dançantes como “Lose You”, há também faixas que soam mais repetitivas e genéricas, o que acaba inflando o repertório e tirando um pouco da potência e intensidade da obra como um todo, se revelando um contraponto falho ao clima descontraído.

Em Gloria, Sam Smith não tem vergonha de expressar como um artista queer, sem amarras e caindo sem medo no pop. Apesar de alguns momentos que pouco tem a dizer, o álbum é divertido, com canções pop empolgantes, os vocais sempre impecáveis do artista e funciona bem para reposicionar a estrela em sua nova fase, mais livre do que nunca.