Quebrando ciclo, Djonga retoma o folego da discografia em ‘O Dono do Lugar’

Em 2021, quando lançou o álbum “Nu”, Djonga havia afirmado que aquele seria o seu último e que focaria no lançamento de singles. Com uma mente fervilhante e inquieta, o rapper não conseguiu manter a promessa, mas quebrou o ciclo de lançamentos no dia 13 de março. “O Dono do Lugar”, sétimo disco do mineiro, se beneficia destas decisões.

Djonga O Dono do Lugar
Capa de “O Dono do Lugar”, novo álbum de Djonga. (Foto: Divulgação).

Com 12 faixas inéditas e autorais, o mais novo lançamento do artista, chega como um recomeço em sua carreira. Apesar de nunca ter perdido a habilidade de compor rimas afiadas e precisas para falar da realidade brasileira sob a perspectiva do homem negro, os dois últimos álbuns de Djonga mostravam que a obrigação de ter um lançamento com data marcada estava pesando.

Ao lançar o novo projeto em outubro, o rapper entrega um trabalho com uma produção mais refinada e um acabamento que dá maior potência as letras que seguem trazendo um misto de sensibilidade com humor, ironia e provocação.

“O Dono do Lugar” traz um olhar muito preciso de Djonga sobre a indústria musical e os desafios que se enfrenta para dar seguimento a uma carreira na música, estando inserido no atual cenário cultural brasileiro, em ruinas. Vale somar a isso, o fato de que o artista agora também administra seu próprio selo “A quadrilha”, o que acrescenta mais uma camada nesse olhar.

Djonga O Dono do Lugar
(Foto: Divulgação)

Outra questão abordada de uma maneira bem interessante na obra é a masculinidade. Este é um tema que o mineiro já vem abordando em suas obras anteriores, mas aqui ele aparece retratado de uma maneira mais ampla e mais madura, questionando padrões e papéis que são impostos aos homens negros, incluindo alguns momentos de autocrítica.

O racismo e a realidade do homem negro seguem sendo traduzidos com maestria por Djonga. Em suas rimas, o rapper mantém a capacidade de meter o dedo na ferida dos brancos e de todos que contribuem para a manutenção da estrutura racista na qual o Brasil está fundado, de maneira inteligente, direta e franca.

Em termos de sonoridade, a parceria entre Djonga e o produtor Coyote segue firme e potencializada com uma produção mais trabalhada. Vale destacar que este é o disco mais melódico do rapper, um direcionamento bem acertado, principalmente quando aliado ao uso de instrumentos orgânicos. O trap e o funk também aparecem mais destacados aqui.

Djonga O Dono do Lugar
(Foto: Divulgação).

O álbum abre com “Tôbem”, um relato sobre os desafios da carreira no rap e uma reafirmação da força do autor e do seu olhar sob a música e o que está a sua volta: “Isso aqui não é o som de milhões, é o som do real / É que eu conto por relevância, não por numeral”.

“Dom quixote” é uma das faixas que melhor resume a atmosfera do álbum, com uma representação metafórica do artista lutando para sobreviver as adversidades do Brasil atual, que seriam os seus moinhos de vento. A alegoria também está presente na cada do disco.

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Vale destacar ainda o impacto de faixas como “Em quase tudo”, “Conversa com uma menina Branca”, “A cor Púrpura” e “Giz”, que faz um belo encerramento.

Em “O dono do Lugar”, apesar de Djonga ainda seguir, de uma forma geral, com moldes parecidos com os de discos anteriores, ele mostra que continua usando os fazendo como ninguém e entrega um álbum potente, rico, com mais equilíbrio e mais maturidade que os trabalhos mais recentes. O artista continua longe de passar despercebido.