Em ‘Orgia’, Johnny Hooker se aventura em uma noite de sexo desmedido

Em meio à polêmica gerada com o seu desabafo sobre a dificuldade de ser artista diante do atual cenário do mercado de música brasileiro, após a frustração com os números da estreia do single “Cuba“, Johnny Hooker lança “Orgia“, seu terceiro álbum. Uma viagem noturna para uma cidade fictícia onde o sexo corre solto. 

Johnny Hooker orgia
Capa de ‘Orgia’, terceiro álbum de Johnny Hooker. Foto: Carlos Salles / Divulgação

Ouvindo o disco dá para entender bem o sentimento que o artista expressou no Twitter, no final de maio, quando expôs para seus seguidores o desempenho inicial do lançamento do single. “Orgia” é um álbum com uma altíssima vocação pop, feito para tocar no rádio ou para ser compartilhado nas redes sociais.

Com uma mistura de ritmos brasileiros e latinos, batidas dançantes e refrães fortes, Hooker deixou claro ao longo das 13 faixas que sua intenção era ser grande, falar com o maior número de pessoas possível e levar todo mundo para uma fuga da dureza da realidade, mas também para uma jornada de liberdade e autodescoberta.

O projeto é baseado no livro “Orgia – Diários de Tulio Carella – Recife, 1960“, escrito pelo ensaísta e poeta argentino Tulio Carella e publicado no Brasil em 1968. O disco abre com o artista pernambucano recitando um trecho da obra, que é o passaporte para essa aventura pela cidade do desejo em que o sexo entre homens é abordado com naturalidade, sem moralismo e cercado de um clima de perigo e misticismo.

Johnny Hooker orgia
Foto: Carlos Salles / Divulgação

O álbum também tem uma veia política forte, apesar de não ser completamente explícita, exceto pela última faixa. Não só pela abordagem LGBTQIA+, mas também por trazer um sentimento de sobrevivência em um Brasil perigoso para quem não está em condições de privilégio ou não segue o padrão vigente.

Após a introdução vem “Amante de Aluguel“, primeiro single a ser apresentado ao público. É um brega cruzado com piseiro e finalizado com um verniz pop, que funciona bem para abrir a sequência e dar o tom noturno que irá se desenrolar mais a frente.

Nhac!” foi lançada originalmente no álbum “ECDISE“, do artista paranaense Chameleo. A faixa se repete aqui e encaixa perfeitamente na atmosfera de “Orgia“. A dupla entrega um flerte entre o rock e o pagode com temática vampiresca altamente sensual e uma ótima performance. 

Cuba“, o single que foi o centro de toda a discussão, alia a latinidade ao eletrônico e traz na sonoridade dançante e envolvente muita tropicalidade. “Maré” é um dos melhores momentos do álbum, uma excelente parceria com o cantor Silva, que transborda sensualidade.

Larga Logo esse Boy” volta com o piseiro e entra no território da sofrência em um dueto com Jáder. “NSRA das Encruzilhadas” inicia o segundo e melhor momento da obra, um pouco mais melancólico mas não menos vibrante, com uma belíssima composição de Filipe Catto.

Abrigo” é um samba que revela o momento mais vulnerável da obra. Com uma letra que se afoga em mágoa e solidão, Johnny Hooker mostra, mais uma vez, a sua interpretação visceral. “Eu Te Desafio a Me Amar” estende o momento à flor da pele em mais uma excelente performance de blues rock com toque latino.

Johnny Hooker orgia
Foto: Carlos Salles / Divulgação

Estandarte” é o momento mais político do disco. Aqui, Johnny evoca o carnaval para lavar a alma das dores, das perdas e do caos político e social vividos nos últimos anos, encerrando com um registro do famoso discurso de Mariele Franco. Vou ressignificar essa dor, vou começar de novo / Da bandeira, das cores que me rege / Do sagrado e lei que me protege / Carrego o meu amor”, diz a letra.

Em “Orgia“, Johnny Hooker expurga as mágoas e feridas abertas pelo caos do Brasil, em uma noite de sexo desmedido e muita latinidade, codificados em um álbum pop que te convida a cantar junto e sofrer junto com amigos em um bar.