[CRÍTICA] Por que vale a pena ouvir V, novo álbum do Maglore

Em um momento em que vem se discutindo sobre uma retomada do rock, após um período de pouquíssimas novidades realmente empolgantes no gênero, O Maglore se destaca no cenário musical brasileiro e desponta trazendo de volta o frescor do rock nacional em 2022 com o excelente, maduro e atual ‘V’, mais novo álbum da banda baiana.

Maglore V
Capa de ‘V’, novo álbum do Maglore. (Foto: Azevedo Lobo / Divulgação).

O quinto álbum do grupo formado por  Teago Oliveira (voz e guitarra), Lelo Brandão (guitarra, sintetizadores), Felipe Dieder (bateria) e Lucas Gonçalves (baixo); deixa bem evidente a sua evolução musical. Da sonoridade crua, do primeiro álbum, ‘Veroz’ (2011), a banda vai crescendo a cada novo trabalho até atingir a sonoridade épica, pop e embebida de referências da MPB do novo disco.

‘V’ tem um som que bebe diretamente da fonte do rock clássico, mais diretamente de pedras fundamentais como os Beatles e os Beach Boys; e da MPB da década de 1970. Esses elementos se unem em uma atmosfera quente e esperançosa que traz uma sensação de conforto e acolhimento com o refinamento da produção de Leonardo Marques.

A obra é baseada em experiências da vida pós-pandemia retratas de uma forma bastante realista e coerente, porém leve e com um olhar otimista para o futuro. O cenário político e social do Brasil está presente, mas sem peso e intercalado por baladas românticas com histórias dignas de cinema e um clima de Sessão da Tarde.

“A Vida é uma Aventura” abre o álbum em grande estilo, com um arranjo épico que remete aos filmes da franquia 007 e uma letra que reflete sobre a capacidade de superar a turbulência da vida e dos desafios da história recente: “A gente envelheceu, a gente superou / Cada momento em que a vida foi mais dura / Para se escrever em um final que não chegou”.

Maglore V
(Foto: Azevedo Lobo / Divulgação).

“Amor de Verão” é uma canção romântica que aquece o coração com o sentimento de esperança da chegada de um tempo ensolarado, com um novo amor e novas experiências para serem vividas. “Espírito Selvagem” traz uma letra que lembra Belchior e reflete sobre um espírito de rebeldia e liberdade que resiste através dos tempos.

“Talvez” relata uma confusão de sentimentos intensa, porém ela é cantada de forma leve, com um arranjo tranquilo e com um tom divertido, o que dá um bom contraste. “Vira-lata”, é uma excelente releitura de um rock-balada lançada como single solo de Lucas Gonçalves.

“Eles” é a canção mais explicitamente política do disco. Um grito de resistência que vai crescendo no decorrer da faixa, contra as forças obscuras que tomam o Brasil e um olhar otimista para o futuro: “Eles, eles não têm chance, não / Eles não entendem o que são / Não há beleza, é só tristeza e vício em destruição / Eles não entendem o que são”.

“Medianias” traz uma sensação de angústia e inquietação que fala com nossos medos e nossas incompreensões diante de uma realidade complexa. “Amor Antigo” é uma belíssima canção romântica que traz um delicado relato de um rompimento no qual o amor e o carinho pelo outro ainda existem.

“Maio de 1968” é o ápice do disco. Uma viagem no tempo, para um ano divisor de águas no mundo, com uma atmosfera psicodélica que remete totalmente a Beatles e traça um paralelo com os acontecimentos tão intensos e impactantes quanto, do presente. “Para Gil e Donato” encerra com uma espécie de oração inspirada nestes dois pilares da música brasileira.

Em ‘V’, o Maglore traz o melhor da experiência que a banda acumulou ao longo dos anos, tanto juntos, quanto nas experiências solo dos seus integrantes. Toda essa bagagem da forma a um disco de rock conectado com o presente, que soa moderno ao mesmo tempo em que bebe bastante de referências clássicas e mantém a excelência da banda baiana.