Tim Bernardes esbanja maturidade em ‘Mil Coisas Invisíveis’

Não é novidade dizer que Tim Bernardes é um dos melhores compositores da atual geração da música brasileira. Mas é impossível não notar o quanto isso se reforça a cada lançamento do artista de 31 anos, líder da banda O Terno. “Mil Coisas Invisíveis“, seu segundo álbum solo, supera as expectativas, que já eram grandes.

Tim Bernardes
Capa de ‘Mil Coisas Invisíveis’, segundo álbum solo de Tim Bernardes. Foto: Marco Lafer & Isabela Vdd

Se em seu primeiro projeto solo, “Recomeçar” (2017), Tim sofria as dores do amor e cantava seu aprendizado sobre as relações na vida adulta, em seu mais novo disco ele reflete sobre a vida e questões existencialistas, com um olhar mais maduro e uma sensibilidade acachapante.

Ao longo das 15 faixas, o músico vai discorrendo reflexões que ao mesmo tempo em que soam muito íntimas, falam diretamente com cada um de nós. As letras densas, profundas e belíssimas vão se encaixando como peças de um quebra-cabeças que ilustram a passagem do tempo e as transformações da vida.

O próprio Tim definiu a obra como um livro, em comparação ao álbum antecessor, que funcionava como um filme. De fato, a forma como ele vai abordando temas complexos de uma forma leve, natural, quase como numa conversa de bar, mas também, repleta de poesia, se aproxima bastante da sensação de uma leitura imersiva.

Tim Bernardes
Foto: Marco Lafer & Isabela Vdd

Ao mesmo tempo em que “Mil Coisas Invisíveis” é feito de arranjos minimalistas, com predominância das cordas e do piano, a grandiosidade da sonoridade é impressionante. Cada melodia vai crescendo e ganhando força a cada nota e a voz de Tim chega a soar assombrosa de tão potente em vários momentos.

Nascer, Viver, Morrer” abre o disco e funciona como uma síntese da obra. Um olhar sobre as diversas fases da vida e as diferentes formas de enxergá-la e de experimentá-la em cada uma delas. 

Fases” vem em seguida com uma constatação da passagem do tempo e das transformações irreversíveis que ela vai nos provocando. “Trago marcas do caminho / Perdi a pureza da infância / Trato as marcas com carinho / Elas já são parte de mim”, diz a letra.

BB (Garupa de Moto Amarela)” é a faixa mais declaradamente romântica do disco. Parece ser bastante íntima, citando lugares e detalhes particulares da vida do autor. “Realmente Lindo” é uma belíssima versão da música escrita por Tim, para Gal Costa, e gravada por ela no álbum “A Pele do Futuro” (2018). 

Em “Meus 26“, o artista faz uma reflexão pessoal sobre si mesmo, com a chegada dos 26 anos, e uma visão sobre o Brasil e o mundo pré-2020, prestes a se transformar drasticamente. “A transformação do ano de saturno / Não foi fácil pra ninguém / Presos entre um fim e um recomeço / Ou entre o começo e o fim.”

Velha Amiga” traz recordações de Tim sobre um momento do passado com um sabor de nostalgia e um relacionamento ainda marcante. “Olha” é o momento mais melancólico e uma dos mais bonitos da obra, um retrato delicado e doloroso da ruína de um relacionamento.

Ultima Vez” é uma canção cinematográfica que lembra um pouco do que foi feito em “Recomeçar”. O artista vai narrando com  detalhes o reencontro de um casal com um passado ainda bastante vivo. Em “Mistificar“, Tim faz uma reverência a tudo o que não pode ser explicado pelo racional. 

Tim Bernardes
Foto: Marco Lafer & Isabela Vdd

Beleza Eterna” versa sobre a insanidade da vida contemporânea, sobre a ansiedade da vida adulta, o medo da mudança e a busca por felicidade, acompanhado por um coro que conta com as vozes de Dora Morelenbaum e Zé Ibarra. “Mas que a vida nunca é curta / Perto de tudo que ela é bonita / Vida infinita / A beleza eterna que, às vezes, pode-se enxergar.”

Em “Mil Coisas Invisíveis” Tim Bernardes mostra uma capacidade afiada de traduzir as vivências da sua geração e falar de forma simples, carregada de emoção, de questões complexas e inquietantes sobre a vida e o tempo. Passando longe dos padrões comerciais atuais, o músico alcança o público pela sua sensibilidade.