Gabeu faz história na música sertaneja com Agropoc e revela processo criativo do álbum: ‘É muito significativo’

Gabeu concorreu, nesta quarta-feira (20), o seu primeiro gramofone dourado. Aos 24 anos e com apenas 3 de carreira, o cantor foi indicado ao Grammy Latino com o álbum Agropoc (2021) na categoria Melhor Álbum de Música Sertaneja. A cerimônia de premiação acontece no Michelob ULTRA Arena no Mandalay Bay, em Las Vegas, nos EUA.

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Gabeu foi indicado ao Grammy Latino pelo álbum AgroPoc (Foto: Gabriel Renné)

Percursor do “queernejo”, movimento musical de artistas LGBTQIAP+ que cantam sertanejo, um gênero predominantemente heteronormativo e masculino, o filho de Solimões, da dupla com Rionegro, recebeu a missão de desbancar o favoritismo do projeto Patroas, de Marília Mendonça (1995-2021) e Maiara e Maraísa. Além do álbum favorito, a categoria é contemplada com Chitãozinho e Xororó (Chitãozinho & Xororó Legado), de 2022, Matheus e Kauan (Expectativa X Realidade), de 2021, e Lauana Prado (Natural), de 2022.

Em entrevista exclusiva ao Mix Me, Gabeu revelou detalhes do processo criativo do disco de estreia, destacou a importância da sua indicação à maior premiação da música latina e a sua reação com o reconhecimento da academia.

“Foi meio de negação, assim. Meu namorado que viu a notícia e aí ele me falou e eu tive uma reação meio ‘não, isso aí é uma lista de possíveis futuros indicados. Isso não é real sabe?’. Eu tive uma reação meio assim. E aí foi quando eu vi realmente que era verdadeira, né? Que eu não estava acreditando de jeito nenhum. Aí a minha ficha demorou cair. Então eu tive um momento assim de choque primeiramente sem reação de pegar e pensar ‘E agora? O que eu faço? Quais são os próximos passos? Com quem que eu tenho que falar? O que eu tenho que fazer?’. Mas aí depois eu peguei meu celular comecei a ver as reações e as mensagens e aí eu fui entrando nessa euforia que a galera também estava muito eufórica. Ver as pessoas muito animadas com a minha indicação me deixou ainda mais animado”, contou o intérprete de Cowboy Fora da Lei.

A presença de Gabeu na lista de indicados ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Sertaneja abre as portas para outros artistas da comunidade LGBTQIAP+ no mercado musical. “É muito significativo ter uma pessoa como eu que é um menino gay afeminado que se identifica como uma pessoa Queer é indicada numa categoria de sertanejo no Grammy, porque eu acho que se pessoas LGBTQIAP+ já enfrentam dificuldades na música num geral, na música sertanejo é o dobro, o triplo, sabe? Por todas as questões problemáticas que têm relação com o machismo, com homofobia, enfim que que hoje parecem ser intrínsecas do sertanejo, né? Parece que é uma regra é que o sertanejo seja dessa forma eu acho que eu estar nessa categoria eu ser indicado com um projeto como o AgroPoc prova realmente que não precisa ser assim e que a gente consegue fazer outro tipo de sertanejo, a gente consegue apresentar novas narrativas novas estéticas, novas sonoridades, diferentes letras, pontos de vistas e perspectivas dentro da música sertaneja.”

Veja a entrevista com Gabeu na íntegra:

Como foi criar o AGROPOC? 

A concepção visual, a concepção artística foi toda desenvolvida com o meu namorado, o Well. E a gente pensou, né? Em toda a estética e mais uma vez a gente contou com a ajuda de profissionais muito bons. Então o Gabriel Renê que fez as fotos, o Paulo Galo que fez os looks, a Pedro fez a maquiagem. Pessoas que realmente compraram a ideia, entenderam a ideia, né? Tipo, isso é o mais importante entenderem o conceito do projeto e quando a gente viu estava todo mundo mergulhado assim no projeto, então rolou muito bem sabe

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Gabeu (Foto: Mah Matias)

O AgroPoc foi muito gostoso assim tipo o processo de pesquisa mesmo do álbum foi uma delícia porque eu realmente me debrucei eu li muita coisa eu ouvi muita coisa eu realmente me joguei muito na história da música sertaneja eu fui atrás assim de muita informação pra fazer as coisas com propriedade, sabe? Então eu queria muito entender a história mesmo da música sertaneja, como é que a gente chegou até aqui, por onde a gente passou, quais foram as mudanças, as transformações, sabe? Entender qual era o papel da música country em cima da música sertaneja, entender a influência de uma cultura mais pop atual em cima da música sertaneja, a influência da música latina [no gênero musical] então esse processo de pesquisa foi muito gostoso. A produção em si foi muito interessante, eu produzi com o Fabrício Almeida que é um músico que já trabalhou com o meu pai então é uma pessoa que eu já tinha uma familiaridade já tinha um é uma proximidade maior ali então a gente conseguiu estabelecer uma dinâmica de trabalho bem interessante e as coisas fluíam muito bem.

Como foi trabalhar com o seu namorado no álbum de estreia?

O Well é uma pessoa que comprou muito a ideia do AgroPoc, os conceitos individuais de cada música e o conceito geral do álbum. Ele entendeu exatamente o que eu queria e soube transpor todas as minhas ideias em músicas. Uma das minhas limitações é isso: eu não produzo eu tenho ideias mirabolantes na minha cabeça e eu preciso que alguém execute. Então ele entendeu tudo muito bem e conseguiu transformar isso em música, sabe? E eu senti que ele se divertiu muito também produzindo porque como ele fala é uma coisa muito diferente do que ele estava habituado, sabe? Ele por ser um produtor de música sertaneja está habituado a fazer muitas coisas meio padronizadas então o Agropop eu senti que também foi uma expansão assim pra ele no sentido de ter que pesquisar mais coisas que não eram muito familiares pra ele ter que escutar música que normalmente ele não escutaria. Então foi muito enriquecedor pra mim, pra ele, pra todo mundo que estava envolvido no projeto. Foi muito legal.

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Gabeu (Foto: Sillas H)

Qual foi sua reação ao descobrir sua nomeação?

Foi meio de negação, assim. Meu namorado que viu a notícia e aí ele me falou e eu tive uma reação meio ‘não, isso aí é uma lista de possíveis futuros indicados. Isso não é real sabe?’. Eu tive uma reação meio assim. E aí foi quando eu vi realmente que era verdadeira, né? Que eu não estava acreditando de jeito nenhum. Aí a minha ficha demorou cair. Então eu tive um momento assim de choque primeiramente sem reação de pegar e pensar ‘E agora? O que eu faço? Quais são os próximos passos? Com quem que eu tenho que falar, o que eu tenho que fazer?’. Mas aí depois eu peguei meu celular comecei a ver as reações e as mensagens e aí eu fui entrando nessa euforia que a galera também estava muito eufórica. Ver as pessoas muito animadas com a minha indicação me deixou ainda mais animado.

 O que sua indicação ao Grammy na categoria álbum sertanejo significa para você e a comunidade LGBT?

É muito significativo ter uma pessoa como eu que é um menino gay afeminado que se identifica como uma pessoa Queer é indicada numa categoria de sertanejo no Grammy, porque eu acho que se pessoas LGBTQIAP+ já enfrentam dificuldades na música num geral, na música sertanejo é o dobro, o triplo, sabe? Por todas as questões problemáticas que têm relação com o machismo, com homofobia, enfim que que hoje parecem ser intrínsecas do sertanejo, né? Parece que é uma regra é que o sertanejo seja dessa forma eu acho que eu estar nessa categoria eu ser indicado com um projeto como o AgroPoc prova realmente que não precisa ser assim e que a gente consegue fazer outro tipo de sertanejo, a gente consegue apresentar novas narrativas novas estéticas, novas sonoridades, diferentes letras, pontos de vistas e perspectivas dentro da música sertaneja.