Em ‘Pra Gente Acordar’, os Gilsons fazem ponte entre Rio de Janeiro e Bahia

Os Gilsons, trio formado por Francisco, José e João Gil, fizeram recentemente sua estreia em álbum. Intitulado ‘Pra Gente Acordar’, o disco traz alguns dos elementos do som pop do EP ‘Várias Queixas’, mas caminha por uma direção mais intimista e focada no aprimoramento musical da banda. 

Gilsons Pra Gente Acordar
Capa de ‘Pra Gente Acordar’.

‘Pra Gente Acordar’ traz 9 faixas compostas pelo trio e algumas parcerias. A produção musical ficou por conta de José Gil e aprofunda as influências baianas da sonoridade do grupo. Os metais, os elementos eletrônicos sutis e a presença marcante do violão de Nylon se sobressaem no álbum.

Essa estética cerca a obra de um certo clima de nostalgia, principalmente no final, quando ficam mais presentes as referências da Bahia. As canções trazem muito do legado que a família, que tem Gilberto Gil como patriarca, carrega; mas sem sobressair da personalidade do trio. 

Os Gilsons são cariocas, porém são marcados pela herança baiana. Essa dualidade percorre todo o álbum e fica visível tanto no som, quanto nas letras. Essa ponte aérea artística é um dos pontos que reforçam o sentimento nostálgico e uma sensação de aconchego com uma pitada de melancolia, apesar das temáticas solares e otimistas. 

Ao todo a obra é bastante coesa e ganha pontos pela produção caprichada. Em alguns momentos, porém, as temáticas soam repetitivas, por voltarem em pontos já destacados no álbum ou por parecerem muito com o que já foi feito pelo grupo anteriormente.

A faixa-título faz a abertura do disco e é uma composição de Francisco Gil em parceria com Julia Mestre. A canção é esperançosa, chamando por um futuro utópico. É mais uma dessas músicas feitas antes da pandemia, mas que encaixam perfeitamente no cenário brasileiro atual.

“Vem de Lá” é uma composição do trio e é a primeira a evocar a Bahia. Aqui fica explícita a saudade não só da região em si, mas também de alguns outros pontos que remetem à vida pré-pandemia, como o carnaval. Há também uma ansiedade por reencontros que parecem ter sido adiados.

“Dês” foi feita em conjunto por João Gil e Carlos Rennó. É uma letra romântica que retrata o encantamento do início de um relacionamento. “Proposta” é de José Gil e Mariá Pinkusfeld e nesta canção eles retratam o próprio envolvimento como casal, que resultou no nascimento de suas filhas gêmeas. 

“Duas Cidades” é a canção que mais deixa explícita a dualidade entre Rio e Salvador. “Por entre duas cidades, voltar pra casa / Por uma longa estrada, rever / Você.”, diz a letra de João Gil e Julia Mestre“Um Só” é de Francisco Gil e é a música com a maior carga de sensualidade da obra. Essa sensualidade, no entanto, aparece de uma forma romântica e mais poética. 

“Bela”, foi feita por João Gil para sua avó Belina Aguiar, que foi a primeira esposa de Gilberto Gil e mãe de Nara Gil, de quem o autor é filho. Ela foi composta na ocasião do aniversário de 80 anos da matriarca e agora se materializa como uma homenagem póstuma.

“O Dia Nasceu” é outra faixa escrita por Francisco, que volta a trazer o clima confortável e aconchegante de um romance em plena forma. “Voltar a Bahia” é a parceria de Fran com Clara Buarque que encerra o álbum. Ela arremata com o desejo de voltar às origens e resgatar um legado.

Em ‘Pra Gente Acordar’ os Gilsons avançam musicalmente e entregam um primeiro álbum que complementa o que eles construíram com os singles lançados até então. Apesar de ter momentos de altos e baixos, no todo a obra é um ponto de partida satisfatório e que mantém a veia pop do grupo.