[Crítica] Em ‘This Is Why’ o Paramore retorna mais maduro e sem saudosismo

Paramore
Paramore (Foto: Zachary Gray/divulgação).

Após seis anos em hiato, o Paramore voltou a ativa com força total. Em This Is Why, novo álbum da banda, lançado no último dia 10 de fevereiro, Hayley WilliamsTaylor York e Zac Farro se reencontram para dar forma a um som mais maduro, com um olhar afiado para o cenário político-social do mundo nos dias atuais.

Se no álbum anterior, ‘After Laughter’ (2017) o grupo estava caminhando na direção de uma sonoridade cada vez mais pop, olhando para as referências da década de 1980, que se revelaram uma tendência no cenário musical global nos anos seguintes, em This Is Why, a banda retoma suas raizes nas guitarras pesadas do rock, só que com uma  nova pegada.

Aqui, a atual formação do Paramore, que é a mais entrosada e a primeira a se repetir em mais de um álbum, se volta para um roque mais cru e com um verniz indie que dá a banda o tom que casa muito bem com o momento vivido pelos seus integrantes, principalmente pela líder, Hayley Williams.

Paramore This Is Why
Capa de ‘This Is Why’, novo álbum do Paramore (Foto: divulgação).

Após experimentar novos caminhos em sua carreira solo, gerando o ótimo ‘Petals For Armor’ (2020), Williams retomou a frente da banda que a alçou ao estrelato na segunda metade dos anos 2000 carregando uma bagagem de novos sons e referências que trouxeram a sonoridade e às letras do Paramore, maturidade e um olhar mais adulto para o mundo.

Se em Riot (2007) e Brand New Eyes (2009) as temáticas da banda giravam em torno do universo adolescente e jovem-adulto, no disco que marca o seu retorno, o grupo traz um olhar acido sobre as questões que envolve a realidade social conturbada do mundo em 2023.

A faixa título abre a obra com uma letra precisa sobre opiniões não solicitadas. O refrão de efeito instantâneo ganha potência com o peso da guitarra e o domínio vocal de Hayley Williams. “Se você tem uma opinião / Talvez você devesse enfiá-la / Ou talvez você pudesse gritá-la / Talvez seja melhor guardá-la”, diz os versos iniciais.

“The News” faz uma crítica a mídia e ao consumo caótico de um volume avassalador de notícias que impactam a vida de todos citando, inclusive, a guerra na Ucrânia. “A cada segundo, nosso coração coletivo se parte / Todos juntos, cada cabeça balança /
Feche os olhos, mas isso não passa / Ligue, desligue o noticiário”.

“C’est Comme Ça” (“é assim que as coisas são”), é uma das faixas do disco que mais foge do que a banda já apresentou anteriormente e usa um ritmo dançante e contagiante para destilar muita ironia em uma letra sobre os desafios de um dia-a-dia frenético e conturbado.

“Big Man, Little Dignity” e “You First” pegam um pouco mais leve nos sons pesados, mais ainda mantem a empolgação. “Figure 8” usa uma metáfora com o número 8 para elaborar um sofrimento romântico e ao mesmo tempo existencialista: “Uma vez que você me deixa/ não sei como parar/ perdi meu caminho/ rodando numa infinita figura em forma de oito”.

Na medida em que a obra vai avançando o ritmo vai desacelerando e vão se apresentando excelentes baladas mais intimistas como “Liar”“Crave” , que deixam evidente a habilidade vocal de Williams e flertam de leve com o legado emo da banda, em um clima mais melancólico.

Em This Is Why o Paramore retorna com um som maduro, redefinindo a personalidade da banda, ao mesmo tempo em que se mantém fiel a sua essência. A química entre os três integrantes é evidente, assim como o desejo de fazer um rock com frescor, que tem mais haver com o atual momento deles e do seu público.