Em busca de seu décimo título no grupo especial do Rio de Janeiro, a escola de samba Império Serrano fez uma homenagem a Arlindo Cruz no desfile que aconteceu no último domingo (19), abrindo a primeira noite de desfiles na Marquês de Sapucaí. O sambista durante toda sua carreira fez-se evidenciar seu amor pelo manto verde e branco.
Acometido por um acidente vascular cerebral em 2017, que fez com que perdesse seus movimentos e comprometeu sua fala e percepção, Arlindo Cruz precisou se afastar dos palcos e da Sapucaí devido a sua condição física. Desta forma, o Império Serrano precisou adaptar o último carro alegórico que trouxe o artista de volta a Apoteose.
Acompanhado da esposa e de uma equipe de médicos, enfermeiros e um balão de oxigênio, Arlindo Cruz cruzou a Marquês de Sapucaí no último carro alegórico da escola visivelmente emocionado. O carro alegórico em formato de bar trazia uma imensa escultura do sambista tocando banjo e usando uma coroa, em reverência a sua carreira e o título de rei do samba. O artista trazia em uma de suas mãos um Oxê (machado sagrado usado pelo Orixá Xangô), símbolo de sua fé.
O desfile foi construído em torno da vida, carreira e fé do artista. Algumas alegorias representavam suas principais canções, outras momentos importantes de sua vida pessoal e também sua fé, como é o exemplo do mais esperado carro alegórico da escola. Arlindinho Cruz, filho do sambista, veio na comissão de frente da escola, que foi coreografada por Junior Scapin e ao final do desfile disse que viu seu pai feliz e com semblante diferente.
“Hoje eu vi meu pai sorrir, melhorar o semblante, um semblante mais leve. Acho que essa coisa de levar o corpo junto ao samba, esse juramento do sambista, é muito importante. A presença dele aqui é muito importante”.
Contou ainda que muitas vezes foi contra a participação do pai no desfile devido a sua limitação, acreditando que o desgaste de ir até a Sapucaí o poderia prejudicar. “Em outros momentos achava que tinha. Mas eu vendo aqui ele sentindo essa energia, o jeito dele interagir com a gente, principalmente. Ele sempre se colocou muito positivo para tá aqui. O cara que se doou tanto para o Império, que me ensinou a ser Império. O pai que é o pai, que dá o máximo”.
A escola trouxe para a avenida o enredo “Lugares de Arlindo“, em alusão a sua mais popular composição “Meu lugar“. O samba enredo, composto por Pedro Souza, Leandro Almeida, Moacyr Luz e Pedro Terra, faz uma síntese da vida nos subúrbios cariocas, que sempre foi o grande motivo das composições de Arlindo Cruz.
Acostumado a compor e puxar os sambas do Império Serrano, Arlindo Cruz atravessa a Sapucaí até a apoteose como o grande dono da festa. Uma homenagem ao artista que se confunde com uma homenagem ao samba, ao subúrbio e à fé.
Rhuan é estudante de Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), natural de Alagoas, pisciano, amante de música pop, signos e da arte drag.