Ana Cañas passeia com sabedoria pela obra de Belchior em seu novo álbum, “Ana Cañas canta Belchior”, que já está disponível nas principais plataformas de streaming. A cantora e compositora paulista interpreta de forma própria 14 faixas do compositor cearense, morto em 2017.
Ela abre o disco com “Coração Selvagem”, na qual mostra a força e feminilidade como marcas do projeto. Outros grandes sucessos de Belchior como “Sujeito de Sorte”, “Paralelas”, “Alucinação”, “Velha Roupa Colorida” e “Como Nossos Pais” também ganharam o jeito especial de Ana.
A cantora também interpreta músicas mais lado B de Belchior, como “Na Hora do Almoço”, “Medo de Avião” e “Galos, Noites e Quintais” – sempre com o estilo que colocam Ana Cañas como umas das principais intérprete brasileira da sua geração.
“Acho que o fato de ter poucos elementos acaba por ressaltar a voz, a interpretação. E esse foi o desafio. As músicas versam geralmente sobre paixão, catarse e reflexão social. Exige uma compreensão ampla das camadas do coletivo e suas intersecções. Apesar de muitas metáforas e poesia, também traz uma literatura direta e acessível. É um universo bastante complexo e há que se despir para mergulhar nele”, analisa Ana sobre os arranjos produzidos pela própria artista e por Fabá Jimenez.
E o pulo de cabeça da artista no oceano de Belchior começou há dois anos. Uma live despretensiosa com esse repertório resultou em mais de meio milhão de plays no YouTube e os fãs imploraram para o registro das gravações em estúdio. O momento era complicado, a grana curta, mas o próprio público de Ana se uniu para financiar este disco.
“Sinto que uma voz feminina relendo um clássico da música popular brasileira é como um portal. Novos sentimentos e olhares. Cresci ouvindo Elis, Gal e Bethânia fazendo isso como ninguém e redirecionando músicas (escritas geralmente por homens) em versões definitivas. Porque mulheres têm um abismo singular, conhecem cerceamento e opressão de forma única e isso é traduzido no canto com uma força peculiar”, defende a intérprete.
O projeto ainda traz 14 visualizers, um para cada faixa do álbum, dirigidos por Ariela Bueno. Ana explica que a ideia é trazer uma espécie de disco visual e aproximar o público do projeto com compartilhando o processo de gravação e os bastidores do projeto.
Ouça “Ana Cañas Canta Belchior”
Marcelo Argôlo é jornalista e pesquisador musical. Autor do livro Pop Negro SSA: cenas musicais, cultura pop e negritude, atua no mercado de comunicação e jornalismo musical desde 2012. Nesse período, teve passagens por redações, agências e assessorias. Atualmente se dedica ao Mix Me e a projetos de produção de conteúdo sobre música pop e negritude.