Rosalía vai do reggaeton ao hip hop e desconhece limites em ‘Motomami’

Depois de estourar mundialmente com o álbum ‘El Mal Querer’ e uma série de singles que a introduziu com louvor no pop, Rosalía passou por um bloqueio criativo, voltando a compor depois de um tempo em Nova York com Frank Ocean. O resultado foi o início do mais novo e mais ousado álbum da espanhola, ‘Motomami’.

Rosalía Motomami
Capa de ‘Motomami’. Foto: Divulgação.

O terceiro álbum da estrela internacional é radicalmente diferente de seu antecessor e igualmente surpreendente. Se em 2019 ela sacudiu os ouvidos do mundo com sua releitura da música flamenca, agora ela traz um universo frenético construído a partir do cruzamento de diferentes gêneros musicais com a música latina.

bongôs, castanholas, guitarras flamencas e até uma bateria de escola de samba encontram batidas eletrônicas, elementos do jazz, o flow do hip hop e do trap, experimentações com Auto Tune e os refrães marcantes de uma boa canção pop. Todas essas combinações acontecem de formas não óbvias e bem inventivas.

Grande parte das 16 faixas seguem um ritmo acelerado e todas são bastante intensas, uma atmosfera que parece refletir a maneira como a artista enxerga a vida. A obra soa inquieta e múltipla. O tempo todo ela vai tomando rumos diferentes e dobrando curvas inesperadas, parece caótico, mas na verdade, é tudo bem arquitetado.

A abertura fica por conta de “Saoko”, que resume bem a essência do disco. Um reggaeton que encontra o jazz e faz referência a Wisin e Daddy Yankee, além de refletir na letra o espírito de Rosalía. “Eu sou muito dona de mim, eu me transformo / Uma borboleta, eu me transformo.”, dizem os versos. 

“Candy” é um reggaeton mais lento, sensual e dramático, com uma interpretação envolvente. “La Fama”, primeiro single divulgado do track-list, é uma bachata experimental que prende a atenção do ouvinte nos primeiros segundos. A canção ainda é marcada pelo excelente encontro com The Weeknd.

“Bulerías” traz de volta o flamenco tão bem dominado na voz da cantora e está envolta em uma atmosfera que te faz se sentir em uma noite nas ruas da Espanha. “Chicken Teriyaki” volta para o reggaeton, dessa vez esticado para o flow do hip hop. As citações vão de Naomi Campbell a Julio Iglesias, em um passeio por Nova York. 

“Hentai” é uma das músicas mais bonitas da leva. Ao mesmo tempo em que ela fala de sexo sem nenhum tabu, revela uma sensiblidade e um toque de vulnerabilidade na voz da cantora que é provocante ao mesmo tempo que é encantador. Em “Bizcochito”, Rosalía explora seu lado mais pop, com ares de Gwen Stefani.

Em “G3 N15” , a cantora transforma em música a mensagem deixada por sua avó e com um arranjo minimalista, deixa sua voz tomar conta dos espaços no momento mais íntimo do álbum. A faixa-título é outra experimentação com batidas eletrônicas e vocais que fazem sentido de uma forma inusitada.

“Diablo” volta a tocar em elementos do rap e conta com vocais de James Blake. “Delirio de Grandeza”, é um cover de um bolero cubano da década de 1960 e tenta transportar o ouvinte direto para a época com o som da artista saindo de uma vitrola.

“CUUUUuuuuuute”, começa com uma bateria de escola de samba e desemboca em camadas de sons eletrônicos e mais samples surpreendentes. ”Sakura” encerra a obra em um ponto alto com uma performance ao vivo, ou pelo menos feita para parecer assim, que tem como grande destaque a interpretação da espanhola.

Com ‘Motomami’ Rosalía estica os limites do pop ao mesmo tempo em que se consolida como grande estrela da nova geração. Além do já conhecido domínio dos gêneros latinos, a cantora não tem medo de experimentar com diversas referências, das mais diferentes formas e construir um dos trabalhos mais criativos do atual momento da música cantada em espanhol.