Homem paraplégico volta a andar com ajuda de inteligência artificial

Um homem paraplégico por uma lesão na medula espinhal voltou a andar depois que os cientistas criaram uma “ponte digital” restaurando a comunicação entre seu cérebro e a coluna. Usando muletas, o holandês Gert-Jan Oskam, de 40 anos, conseguiu ficar de pé, andar, subir rampas e até subir escadas, informou a revista científica Nature na quinta-feira (25).

Oskam disse que foi capaz de caminhar pelo menos 100 metros ou mais em alguns dias. Ele também conseguiu andar de muletas quando o implante foi desligado, aumentando a esperança de que tecnologias como essas possam restaurar a função nervosa perdida. “Eu me sinto como uma criança aprendendo a andar de novo”, disse Oskam à BBC. “Foi uma longa jornada, mas agora posso me levantar e tomar uma cerveja com meu amigo. É um prazer que muitas pessoas não percebem.”

O holandês ficou paraplégico depois um acidente de bicicleta há 11 anos, que causou uma lesão incompleta na medula espinhal. Cinco anos depois, um ensaio clínico envolvendo um implante de medula espinhal restaurou a capacidade de Oskam de dar passos com a ajuda de um andador.

Ele conseguia andar, mas apenas em superfícies planas, e tinha dificuldade para começar e parar.
O objetivo do estudo, realizado por uma equipe que inclui Gregoire Courtine, neurocientista do Instituto Federal Suíço de Tecnologia em Lausanne, era entregar o controle ao cérebro de Oskam. “Apesar de usar a estimulação do implante da medula espinhal por três anos, ele atingiu um platô em sua recuperação e ficou interessado em usar a nova estimulação controlada pelo cérebro. Então, ele se tornou nosso primeiro piloto de testes.”

Resultados positivos

Os cientistas criaram a ponte entre o cérebro e a medula espinhal para permitir o controle sobre o tempo e o volume da atividade muscular, restaurando o controle de ficar em pé e andar em pessoas paralisadas por uma lesão na medula espinhal.

Depois que a atividade cerebral do paciente foi decodificada, a interface cérebro-espinha levou alguns minutos para ser calibrada. Logo o homem relatou um controle natural sobre os movimentos. Um estudo publicado na Nature em 2022 mostrou que estimular os nervos da medula espinhal pode produzir algum movimento.

Mas o estudo mais recente é a primeira vez que a atividade cerebral do próprio paciente foi usada para restaurar o controle voluntário dos movimentos das pernas. Os pesquisadores analisaram a atividade cerebral de Oskam enquanto ele tentava fazer movimentos com as pernas. Eles descobriram que os padrões de atividade eram diferentes quando ele tentava movimentos de quadril, joelho e tornozelo.

Um algoritmo de inteligência artificial traduz os sinais cerebrais recebidos em sinais de comando apropriados para o implante espinhal. Oskam passou por duas operações para implantar eletrodos no cérebro e na medula espinhal para fazer a ponte digital.

Tecnologia usa inteligência artificial

A tecnologia usa inteligência artificial para converter pensamentos de movimento em ações, estabelecendo uma ligação direta entre o cérebro e as regiões da medula espinhal envolvidas na caminhada. Courtine disse: “Pela primeira vez, esta ponte digital contorna uma lesão, restaurando a comunicação entre duas regiões do sistema nervoso central que estão desconectadas. O que observamos é um reparo digital da coluna, uma recuperação da função neurológica que ele perdeu por muitos anos.”