Em ‘Harry’s House’, Harry Styles entrega seu trabalho mais maduro e pessoal

Desde que iniciou a carreira solo, Harry Styles tem usado referências do pop-rock clássico de décadas passadas de diferentes formas, desviando do clima nostálgico clichê. Em seu terceiro álbum, “Harry’s House“, ele dá um passo além e coloca vida a sua obra mais madura e diferentona até o momento.

Harry Styles
Capa de Harry’s House, terceiro álbum solo de Harry Styles. (Foto: Divulgação)

Se no primeiro disco auto-intitulado (2017) ele bebe na fonte de nomes fundamentais do rock e do pop inglês, e no segundo, “Fine Line” (2019) ele se esbalda em sonoridades dos anos 1960 e 1970, agora o britânico parte para brincar com a new wave e o rock dos anos 1980, unindo essas referências ao indie rock do século XXI.

Com uma produção caprichada de Kid Harpoon e Tyler Johnson, Styles mostra sua habilidade de usar o que já é amplamente conhecido do passado para dar origem a sons, ainda assim, altamente criativos, fugindo da simples repetição e de um som pop padronizado. 

Ao longo das 13 faixas, Harry consegue transitar habilidosamente pelo legado de nomes como David Bowie, Prince, A-Ha, Blondie, Duran Duran, Rod Stewart e outros, sem deixar que eles tomem conta da obra. A sua personalidade se sobressai e cresce em meio a todos esses experimentos.

Foto: Divulgação

Com a proposta de abrir a sua casa para o ouvinte, o astro mostra aqui o trabalho mais pessoal e que deixa traçada a sua identidade em cada detalhe. Aqui não há nem sombra do que o artista um dia foi no início da carreira com a boyband One Direction. Tudo soa mais Styles do que nunca. 

O álbum abre empolgando de cara com “Music For a Sushi Restaurant“, um pop meio disco, meio funk romântico e contagiante, como se o autor estivesse dando uma cartada certeira para seduzir e conquistar o ouvinte. “Late Night Talking” mantém a energia dançante e evidencia a maturidade musical de Harry.

GrapeJuice” traz uma combinação perfeita entre o piano, as guitarras, os sintetizadores e os vocais do artista. O single “As It Was” deixa bem evidente o acerto da ideia de colocar o pop do início dos anos 1980 em uma roupagem meio indie. O sucesso e o topo da parada Billboard 200 não poderia ser mais justo. 

Day Light” é boa em descrever musicalmente uma cena de maneira cinematográfica, algo que se repete em outros momentos do álbum. “Little Freak” parte para um momento mais íntimo, com um folk em que o eu lírico fala sobre alguém que enxerga como diferente e vira uma obsessão, ao ponto de magoá-la.

Matilda” é uma das faixas mais bonitas da leva. Um folk que conta a história de uma garota que é desamparada pela própria família, mas acaba se libertando. “Você pode começar uma família que sempre vai te mostrar amor / Você não precisa se desculpar, não”, diz a letra.

Em “Cinema, Harry traz uma excelente canção pop, com uma pegada meio Daft Punk, um refrão chiclete e guitarra de John Mayer. “Daydreaming” também conta com a colaboração do músico e mantém o clima dançante em alta e a criatividade na sonoridade. 

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Satellitle” contagia do início ao fim. Começa de forma sutil e vai crescendo em camadas, com o uso marcante dos sintetizadores, um refrão delicioso, guitarras destacadas e uma interpretação cativante. “Boyfriends” e “Love of My Life” encerram com menos força, mas não prejudicam a obra.

Harry’s House” é fruto da evolução musical e de uma maior segurança de Harry Styles. Cada vez mais livre para experimentar e explorar suas habilidades artísticas, o britânico dá forma a uma excelente peça do pop, que é uma evolução natural dos seus álbuns anteriores e mantém o frescor da sua música, sabendo bem como reinterpretar os clássicos.