Em ‘Gêmeos’, o Terno Rei traz novidade para o rock nacional

Desde de que lançou ‘Violeta’ (2019), seu terceiro álbum, o Terno Rei vem ascendendo como uma das raras bandas do cenário atual que conseguem  trafegar entre o pop e a cena indie brasileira. Com ‘Gêmeos’, seu mais novo projeto, o grupo Mantém e aprimora essa vocação. 

Terno Rei Gêmeos
Capa de ‘Gêmeos’. Imagem: divulgação.

Ale Sater (voz e baixo), Bruno Paschoal (guitarra), Greg Vinha (guitarra) e Luís Cardoso (bateria), constroem aqui uma atmosfera de lembranças, reflexões, dúvidas e angústias cercadas de melancolia e nostalgia; mas que ao mesmo tempo carrega uma vontade de viver e construir um novo futuro. 

Muito desse clima vem também das experiências trazidas do enfrentamento da pandemia de covid-19, pelo grupo. Os vários impactos das transformações ocorridas nas vidas dos quatro integrantes da banda, desde 2020, estão presentes aqui, retratados com sensibilidade e fugindo de clichês. 

Mas apesar do que possa parecer, esse não é apenas um álbum sobre a pandemia. ‘Gêmeos’ vai muito além. Ele é repleto de reflexões filosóficas sobre a passagem do tempo, o amadurecimento, a chegada da vida adulta e o olhar para o passado. As letras são atemporais, capazes de dialogar com qualquer momento da vida.

A dualidade presente, também reflete na sonoridade da obra. As 12 faixas trazem um pop-rock que remete a bandas que moldaram o cenário nacional, como Skank e Paralamas do Sucesso. Há também, na sonoridade, muita bagagem do pós-punk e referências a bandas dos anos 2000.

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“Esperando Você” abre o álbum criando um clima íntimo de dia chuvoso, quieto e com um refrão que dá para imaginar tocando no rádio. “Dias de Juventude” foi o primeiro single divulgado. É uma faixa que traz forte o elemento da nostalgia, evocando a euforia entre o final da adolescência e o início da vida adulta.

“Sorte Ainda”, conquista de cara com o uso dos sintetizadores e do piano elétrico, aliados às guitarras que potencializam uma canção romântica bem executada e contagiante. “Difícil” traz o reencontro com uma amizade antiga interrompida de uma forma conflituosa.

“Brutal” é uma das faixas mais melancólicas e também uma das mais bonitas interpretações de Alê Sater, na obra. Cantada ora quase sussurrada, ora de forma angustiada, narra o vazio imenso da ausência de alguém.

“Internet” retrata de forma bem simples e intensa a solidão e o tédio, marcas do isolamento social da pandemia. “É meia-noite no meu quarto e não tem nada / A internet desagrada, não acha? / Se estou fazendo a minha parte / Às vezes não me sinto parte.”, diz a letra.

“Aviões” é uma balada romântica pronta para virar hit. Aqui, as marcas dos últimos dois anos também se fazem presentes: “Ah, que bom ver você de novo / No ano mais triste de nossas vidas / Vidas, vidas.”. “Só Eu Sei” tem cara de fim de tarde. É uma música com um toque de otimismo e um olhar para o futuro.

“Retrovisor” reflete sobre identidade em uma letra existencialista com uma boa pegada de Clube da Esquina. “Isabella”, é outra faixa que carrega um fundo otimista, esperançoso, e contém uma letra bastante imagética, que fala de um encantamento através de cenas bastante precisas.

“Trailers”, volta para um momento intimista, com um tom mais visceral, para retratar um relacionamento tempestuoso, com idas e vindas. Aqui, as referências de bandas da cena pós-punk ficam bem marcadas. “Olha Só” encerra muito bem a obra por sintetizar os sentimentos que ficaram em evidência ao longo da experiência. “Olha só, eu me entreguei todo / Eu entreguei tudo que eu tinha”. 

Em ‘Gêmeos’, o Terno Rei amadurece a sua veia pop sem deixar de lado as raízes indie. Tocando em temas profundos de forma envolvente e inteligente, a banda consegue ampliar seu espectro artístico, e equilibrar diferentes referências para fazer um rock com frescor e força para ganhar um novo público.