Djonga e BaianaSystem se juntam a Vandal em “Balah Ih Fogoh”

Uma ligação recebida de um amigo para passar as informações sobre acontecimentos em sua comunidade foi o ponto de partida para que Vandal escrevesse, aproximadamente sete anos atrás, o rap “Balah Ih Fogoh”. Agora, preparando seu primeiro álbum, Vandal lança juntamente com o BaianaSystem e Djonga (uma das maiores referências do Rap hoje no Brasil), um novo olhar para essa música.

Uma espécie de “ligação musicada” como o próprio artista define, a faixa já saiu em sua Mixtape de estreia “TIPOLAZVEGAZH” (2015), esteve presente também na coletânea do coletivo “Ugangue” e inicialmente seus versos eram cantados na base da música RIOT de 2 CHAINZ.

Vandal e Djonga
Vanda e Djonga na gravação do clipe de Balah Ih Fogoh em Salvador (Foto: Cartaxo / Divulgação)

Toda essa trajetória foi também costurada pela maturação da faixa nas apresentações ao vivo que fazia na cidade e também nos carnavais que participou ao lado do BaianaSystem, onde a fusão do beat com o instrumental orgânico foi tomando conta das ruas e chamando atenção sempre que era executada.

A força da verdade popular e da comunicação direta foi aos poucos mostrando a importância dessa música para a carreira de Vandal bem como a referência que ela se tornou para o Rap produzido em Salvador.

A ideia começou a ser maturada num encontro que teve com o rapper mineiro justamente num show que Vandal participou ao lado do BaianaSystem no Festival Coala, e onde puderam aprofundar a sintonia iniciada com uma ligação de Djonga alguns meses antes, para se solidarizar com uma situação de racismo que Vandal havia sofrido durante um show seu em Salvador.

A nova e definitiva versão de Balah Ih Fogoh vem com a força da história que essa música carrega, atualizada e revigorada pelos versos urgentes e necessários de Djonga, que rima pela primeira vez numa base mais fincada num instrumental orgânico, com uma presença muito forte da percussão e dos ritmos afro baianos, diretamente ligados a religiosidade e cultura locais.

Ele aborda de maneira visceral temas como o racismo e a afirmação da força da cultura das periferias, e escancara para o público e para o mercado mais uma vez o que acontece historicamente em Salvador, onde o reconhecimento da importância de seus artistas mais originais muitas vezes passa por um olhar de fora para entender e colocá-los no lugar que merecem.

Balah Ih Fogoh dispara de maneira certeira no peito de todos que vivem e sentem a realidade das ruas, e traz a poesia e o ritmo como uma arma essencial de transformação.

Capa Balah Ih Fogoh
Capa de Balah Ih Fogoh (Imagem: Divulgação)

A faixa sai pelo selo Máquina de Louco e tem a mixagem e finalização feita por Daniel Ganjaman, um auxílio luxuoso que abre ainda mais o espectro e o alcance dessa mensagem.

Ganjaman é um dos produtores mais importantes do país, e tem papel fundamental na consolidação do Rap no Brasil, seja por seu trabalho junto ao coletivo “Instituto” ou na direção e produção de nomes como Criolo, Sabotage, Otto e muitos outros. Ganja também produziu os discos do BaianaSystem “Duas Cidades” e o vencedor do Grammy Latino “O Futuro Não Demora”.

Ouça “Balah Ih Fogoh”, Vandal e Djonga feat. BaianaSystem

Letra

EU NÃO TE AMO E NÃO VOU FALAR DE NOVO!
SE CAMINHAR PRA CIMA DO MEU BONDE VAI SER BALA E FOGO!
BALA E FOGO! BALA E FOGO! BALA E FOGO! BALA E FOGO!
EI, SE CAMINHAR PRA CIMA VAI SER BALA E FOGO!
EU NÃO TE AMO E NÃO VOU FALAR DE NOVO!
SE CAMINHAR PRA CIMA DO MEU BONDE VAI SER BALA E FOGO!
BALA E FOGO! BALA E FOGO! BALA E FOGO! BALA E FOGO!
EI, SE CAMINHAR PRA CIMA VAI SER BALA E FOGO!

AVISA OS ALEMÃO QUE EU TÔ BEM, NÉ
TRAZ A BALANÇA DE PRECISÃO QUE MEU PARCEIRO QUER
PELO CERTO, MANDA MEIA CAIXA PRA EU TRAMPAR DE QUÉ-
APROVEITA E AVISA AQUELA PUTA QUE AINDA TÔ DE PÉ
VEM QUE VEM QUE É NA DISPOSIÇÃO! ASSIM QUE O GUETO É
TÔ SEMPRE PLANANDO E CASTELANDO OS INIMIGO, NÉ
SE FOR CAGUETE OU TALARICO VAI DE RALO, NÉ

DEIXA AQUELE OITÃO NA MINHA MÃO NA CONTENÇÃO, NÉ, OU NÃO É
NÃO CRESÇO OS OLHOS EU NÃO QUERO NADA DELES
SÓ QUERO MINHA MOEDA, EU NÃO QUERO NADA DELES
CERTO PELO CERTO, SÓ LAZER! MIL PRAZERES
FAÇO PELO GUETO, FORTALEÇO LINHA DE FRENTE MERMO

EU NÃO TE AMO E NÃO VOU FALAR DE NOVO!
SE CAMINHAR PRA CIMA DO MEU BONDE VAI SER BALA E FOGO!
BALA E FOGO! BALA E FOGO! BALA E FOGO! BALA E FOGO!
EI, SE CAMINHAR PRA CIMA VAI SER BALA E FOGO!
EU NÃO TE AMO E NÃO VOU FALAR DE NOVO!
SE CAMINHAR PRA CIMA DO MEU BONDE VAI SER BALA E FOGO!
BALA E FOGO! BALA E FOGO! BALA E FOGO! BALA E FOGO!
EI, SE CAMINHAR PRA CIMA VAI CHUPAR…

A LUZ DAS ESTRELA SÓ VEM NO ESCURO,
PQ EU BRILHO TANTO ? OLHA A MINHA COR,
NA CINTAAA TU JÁ SABE O QUE TEM NÉ,
DE LAMBORGHINI URUS EM SÃO SALVADOR.
E É ISSO QUE OS BICO NÃO GUENTA,
SÓ QUE O PAI VÊ BICO DES DE CEDO,
O DO FUZIL,
DO PEITO DELAS…
UM EU AMO OUTRO EU APRENDI A NÃO TER MEDO!

DANÇO NO RITIMO O TRIO ANDA,
NÃO SOU FLOR QUE SE CHEIRE E NEM CHEIRO A FLOR,
O TRATAMENTO É CONFORME O CLIENTE PEDE,
NÓS TEM AMOR DE SOBRA MAS FAZ SENTIR DOR!

SE CARREGA O FARDO DA FARDA,
VAI PERSEGUIR OS IRMÃO POR SER FODA,
NÃO ACREDITO EM CONTO DE FADA,
ACREDITO EM IVONE LARA E MÃOS À OBRA!

A REFERÊNCIA É O ESPELHO, OLHO E ENCHERGO GIL, ELZA E IZA.
VOU SER PROTAGONISTA DA AULA DE HISTÓRIA, É DISSO QUE A FAVELA PRECISA.

NESSA FESTA TEM PRETA COM A BUNDA CHÃO,
E AUTO ESTIMA LÁ NO TETO,
OS BOBO DE ANTES SE VESTE DE NOIS,
OS BOY SABE ATÉ FALAR O MEU DIALETO.

AVISA OS ALEMAO QUE NÓS TÁ BEM NÉ,
CADEIRA DA BRAHMA NO TOPO DO MORRO,
CERCADO DOS CRIA,
JUNTO COM A DE FÉ!

E EU NÃO TE AMO E NÃO QUERO QUE INSISTA…
VANDAL E DJONGA
Ê BALE E FOGO NOS RACISTA…