Depois do tombo, Karol Conká volta com força total em ‘Urucum’

Quando saiu do BBB 21, com o maior índice de rejeição da história do programa (99,17%), Karol Conká se viu mergulhada em uma crise na sua imagem e na sua carreira. Meses depois, esse jogo virou em favor da cantora que começou a se reerguer e agora coroa sua retomada com ‘Urucum’, seu terceiro álbum. 

Karol Conká Urucum
Capa de ‘Urucum’, terceiro álbum de Karol Conká. Foto: Jonathan Wolpert com arte de Alma Negrot

Evolução da Carol após o BBB 21

Como não poderia deixar de ser, o projeto traz reflexões sobre tudo o que Karol viveu ao longo de 2021, enquanto se cuidava na terapia e dava forma às novas músicas, ao lado do produtor RDD (Rafael Dias do ÀTTØØXXÁ). Todo esse processo transparece até mesmo nas músicas que foram feitas antes da entrada no BBB. 

‘Urucum’ é um álbum vibrante que se divide entre momentos agitados e expansivos, e outros mais calmos e introspectivos, parecendo refletir a busca da própria artista pelo equilíbrio entre duas faces da mesma moeda. A rapper curitibana se mostra inteira, honesta com tudo o que vivenciou e abraçando as várias camadas da sua personalidade.

O título que se refere a um fruto tropical do qual se extrai uma tinta na cor vermelha, conversa bastante com a sonoridade quente da obra. Batidas africanas, elementos da música baiana, o hip hop, o rap, o trap e diversos sons brasileiros e latinos se encontram e se entrelaçam em um som pop encorpado. 

O álbum ainda consegue retomar o fôlego da discografia da artista. Após uma excelente estreia com ‘Batuk Freak’ (2013), o segundo disco de Karol, ‘Ambulante’ (2018), teve um processo de produção e lançamento conturbados, que acabaram fazendo com que o projeto não tivesse a mesma força de seu antecessor.

O projeto é reflexo da visível afinidade da curitibana com RDD e traz de volta a potência criativa que marcou ‘Batuk Freak’, soando não só como uma volta às origens mas também como uma produção mais madura, que demonstra mais segurança e mais experimentações. 

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“Fuzuê” abre os trabalhos já em alta temperatura. Ao som de um berimbau, Karol abraça seu lado mais caótico e o coloca a serviço de um som crescente e explosivo. “Se Sai” é um reggae que a cantora utiliza para disparar versos afiados sobre a cultura do cancelamento: “Quem nunca erra / Sempre tá por cima / E quem tá por cima / Finge que não erra”.

“Mal Nenhum” foi o primeiro single do projeto a ser revelado para o público, poucos meses após os acontecimentos do BBB 21. É um trap que retrata o processo doloroso de  entender tudo o que passou e aos poucos recuperar a confiança e olhar para frente. 

O trap segue em “Cê Não Pode”, só que dessa vez atravessado por diversos elementos diferentes. Começa com um triângulo que traz a levada de um baião para uma mistura de pagode baiano com música eletrônica e hip hop. “Calma”, é o primeiro respiro da obra, na qual Karol parece cantar para ela mesma.

Em “Vejo o bem” a artista olha para marcas do passado e as usa para se afirmar no presente. “Sossego” volta para um clima mais ameno e íntimo em que Conká desacelera e deixa transparecer mais camadas de si mesma. 

“Slow” é a faixa romântica da leva. Flerta com a MPB e caminha em uma direção mais pop. O reggae e o trap voltam a se encontrar em “Por Inteira”. “Subida” foi outra faixa premonitória. Foi feita antes de 2021, mas se encaixa perfeitamente com o momento atual. “Louca e Sagaz “ sobe de volta o tom e fecha em ponto alto. 

“Urucum” é o álbum certo na hora certa para uma retomada. Depois do tombo pós-BBB 21, Karol Conká usa suas experiências para dar vida às músicas que reacendem seu repertório. Frutos da parceria bem afinada com RDD. O que fica, é o sentimento de que a artista ainda tem muito a oferecer.