O rapper Criolo é um dos brasileiros que perdeu um ente querido para a Covid-19. O artista transformou a dor em música e lançou na última quinta, 23 de setembro, o single “Cleane”, uma homenagem a sua irmã vítima da pandemia.
A faixa conta com produção música de Tropkillaz e chega com um clipe dirigido por Helder Fruteira. Na letra, Criolo mostra o seu lado político, também presente no videoclipe concebido em forma de manifesto, com alguns importantes e representativos signos para as sequências. As críticas, menções e homenagens estão muito contidas no elenco, nas performances, na cenografia e na fotografia.
Em release enviado à imprensa, o Criolo reflete sobre a música e o contexto atual:
“Não acabou e nunca vai acabar a pandemia, sobretudo pra quem perdeu um ente querido. A arte, mais uma vez, ajuda a ressignificar e emanar boa energia, mesmo no meio de um caos tão complexo e profundo, que vai pra além dos últimos anos, mas que agora reencontra num limite nunca visitado. Que o amor possa de algum jeito, forma e milagre visitar o coração de todos sem estrutura, por escolha de um país que decide quem vive e quem morre”.
Assista “Cleane”, de Criolo & Tropkillaz
Letra
Teu representante alimenta com feno
Viagem de espora na dobra do tempo
Baryshnikova que que que que temo?
Talão zona azul de jazigo pequeno
Pilaco da morte, você é pequeno
Quimera de sal, olho seco e relento
Encosta, meu caro, aqui não é centro
Talão zona azul de jazigo pequeno
Fa-fa-faz arminha pre-pretos morrendo
Mo-mo-monetiza com pretos morrendo
Dinheiro pra nós pra sair do veneno
Ninguém tá ligando pra pretos morrendo
Esse sangue pisado não é açaí
Mataram inocente, granola e caqui
500 no pote, prepara o malote
Na praia da morte do grande vizir
Um tiro na cara, um tiro na nuca
Um tiro no amor, outro na cultura
Terror de fragata, radin de cintura
Caneta que assina o papel da estrutura
Se não é com você, que que tá acontecendo?
Sentado no muro, conforto, isento
Se orvalho é descaso, molharam sua bunda
Molharam sua bunda que tá aparecendo
Não é filme do Rambo, Brasil tá sangrando
Essa brisa não bate, bala de veneno
Não é filme do Rambo, Brasil tá sangrando
Essa brisa não bate, bala de veneno
Chambers!
Você não disse que ia passar tudo, Chambers?
Ah, Chambers!
Eu vou ter que desenhar pra você?
Chambers!
(Churi Churin Fun Flais)
Quem é de favela sempre isolamento
Dos sonhos que tenho distanciamento
Seu rosto, sua roupa, meu drip do centro
Já sei, copiaram meu drip no centro
O justo e pobre nessa terra morre
A mente brilhante de um ser cantante
Abraçar minha irmã já não tenho mais tempo (Saudade)
Sem ouro e sem prata, talento é fermento
Eu tô puro ódio, revolta no pódio
Futuro rasgado, cês tão entendendo
Carro rebaixado, o som tá no talo
Favela não vence, tamo no veneno
Cê não pode com procedê, a calça pesa então vamo vê
Favela é amor e só quer crescer
Você entra lá e só quer fudê
Quem sustenta a boca é filho de rico
Que fornece o cheque pro chefe do chefe
O chefe do chefe é o pai do filho
Quirela é passado, moleque quer cash
Dancinha faz tik no tok do clinch
Lutar 12 rounds com asma e bronquite
Cês não tão sabendo, povo tá morrendo
É o chefe do chefe que lucra com a peste
É o pai é o filho, família de rico
Que culpa o pobre que leva o castigo
Cês paga de louco, nois é louco e pouco
Nas venta da morte por aquecimento
Visão de boçal, semente do mal
É Sonia lutando e parente morrendo
Se não é com você, que que tá acontecendo?
Sentado no muro, conforto, isento
Se orvalho é descaso, molharam sua bunda
Molharam sua bunda que tá aparecendo
Não é filme do Rambo, Brasil tá sangrando
Essa brisa não bate, bala de veneno
Não é filme do Rambo, Brasil tá sangrando
Essa brisa não bate, bala de veneno
Chambers!
Você não disse que ia passar tudo, Chambers?
Ah, Chambers!
Eu vou ter que desenhar pra você?
Chambers!
Marcelo Argôlo é jornalista e pesquisador musical. Autor do livro Pop Negro SSA: cenas musicais, cultura pop e negritude, atua no mercado de comunicação e jornalismo musical desde 2012. Nesse período, teve passagens por redações, agências e assessorias. Atualmente se dedica ao Mix Me e a projetos de produção de conteúdo sobre música pop e negritude.